quarta-feira, 13 de abril de 2011

HOMENAGEM AOS COMUNISTAS

                    UM RECONHECIMENTO NECESSÁRIO

No Brasil nunca foi fácil ser comunista. Só recentemente, após a redemocratização do país, é que os comunistas e revolucionários puderam respirar o ar que todo cidadão respira. Bem antes da fundação do PCB, em 1922, os marcados pelo sistema foram os anarquistas, organizadores dos primeiros sindicatos brasileiros, mas eternamente condenados à brutalidade da repressão e a deportação para seus países de origem.

Um país cujo patronato por mais de 350 anos teve sob os olhos mão de obra submissa e escrava, certamente não suportaria com gosto qualquer ideologia portadora de utopias que colocassem em risco seu poder e privilégios. Portanto, anarquistas, comunistas ou qualquer militante de ideais libertários sempre viveram no Brasil o que pode ser chamado de inferno.

Por isso, desde 1922, fazendo jus ao caráter repressor de nossa história política, comunistas de qualquer linha ou tendência pagaram um preço muito alto pelo atrevimento de sonhar uma civilização sem propriedade privada e latifúndios, analfabetismo e desemprego, diferenças sociais etc.

Luis Carlos Prestes, o maior líder comunista brasileiro, depois do movimento comunista de 1937, ficou praticamente preso e incomunicável em uma exígua cela de um presídio brasileiro durante quase todo o Estado Novo. Sua companheira, Olga Benário Prestes, teve sorte bem pior: Getúlio Vargas a entregou às forças de Hitler que a encaminhou para um campo de concentração onde foi morta.

Como Prestes, centenas de militantes comunistas passaram a maior parte de suas vidas na clandestinidade, longe da família e dos amigos, correndo riscos de prisão, tortura e morte. Os familiares dos militantes comunistas também receberam o seu quinhão de sofrimento e humilhação, com agentes da repressão violando a intimidade de suas casas, fazendo ameaças permanentes, muitas vezes prendendo, torturando e em outras até matando para obter informações. Só quem teve marido, esposa, filhos ou pai envolvidos nas lutas desempenhadas pelos comunistas pode avaliar a profundidade do risco e o sofrimento vivenciado durante décadas seguidas.

Foram esses lutadores pessoas extremamente valiosas a quem o Brasil deve muito e precisa começar a reconhecer. Quantos não morreram sob tortura nos órgãos de repressão do Estado Novo ou na Ditadura Militar?  Quantos não estão hoje entre os mortos e desaparecidos pelos militares de 64? Onde estão, por exemplo, os corpos da estudante Helenira e Osvaldão (mortos na Guerrilha do Araguaia) e tantos outros perseguidos, presos, torturados e mortos pela ditadura?

Quanto aos desaparecidos, é preciso fazer justiça dando a seus familiares o direito de sepultar dignamente seus corpos. É preciso reconhecê-los e homenageá-los dignamente inserindo suas histórias e contribuições nos livros didáticos das escolas, também lhes dando nomes de ruas, praças, escolas, centros culturais etc.

Seja de que linha ou tendência for, o Brasil deve muito aos comunistas, pois eles, aliados ou não aos setores progressistas, ajudaram o país a avançar socialmente e a visualizar a possibilidade de horizontes geradores de uma vida democrática.

Não se pode analisar a derrubada do Estado Novo ou da Ditadura Militar sem as mãos persistentes e o sacrifício (muitas vezes com a própria vida) dos militantes comunistas. E não se consegue olhar o avanço das ideias sociais e suas conquistas sem ver a presença desses militantes, sempre perseguidos e condenados à clandestinidade ou à morte. Portanto, não é possível construir um país saudável politicamente sem reconhecer o valor político desses lutadores e a eles fazer justiça.

A homenagem agora feita aos comunistas históricos de nossa cidade, pela sua importância e pelo seu caráter de reconhecimento político, é uma homenagem a todos os comunistas e libertários brasileiros, principalmente os que pagaram com a vida pelo sonho sempre necessário de uma sociedade justa, sem dominação de classe, mas de pessoas politicamente iguais.

    Silvio Prado / Professores Independentes

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