quinta-feira, 28 de abril de 2011

SAÚDE DE QUEM??


                                 S e m   S a ú d e
         Seria muito importante que alguém relatasse em detalhes o drama de pessoas que dependem unicamente do funcionamento do sistema público de saúde em Taubaté ou em qualquer outra cidade do país. 
        
Como poderia ser reconstituída, passo a passo, a rotina de quem precisa urgentemente de consulta, depois remédios ou exames médicos mais específicos e aprofundados?

Como pode ser narrado o drama, o desespero, o desgaste emocional e físico de quem precisa tratar da saúde com dignidade, mas não encontra condições para que isso ocorra? Qual o nível de qualidade do tratamento dado em postos de saúde, pronto-socorro ou mesmo em hospitais da cidade, região ou país?
        
Uma coisa é certa: qualquer clínica veterinária quase sempre trata seus animais com mais recursos e competência médica do que muitos dos organismos públicos que em nossa cidade (e também no restante do país) foram legalmente constituídos para cuidar da saúde do cidadão.
        
Não se tem noticias de filas diante de qualquer clínica veterinária da cidade, mas filas, imensas e vergonhosas, são vistas em todos os prédios onde o Estado deveria proporcionar atendimento médico de qualidade para quem, direta ou indiretamente, já pagou muito caro por um serviço porcamente prestado, como se o contribuinte estivesse recebendo um favor.
        
Nas filas médicas tem sempre alguém esperando uma semana, mês ou meses por um serviço às vezes até simples, como se essa espera não comportasse dor, desespero, angústia, agravamento de doenças e ate mesmo mortes.

Qualquer fila de saúde é tétrica e se compõe de gente vivendo situação próxima de seu limite. Basta um mínimo de paciência para observá-las e logo se vê um cenário de fisionomias contraídas pela preocupação ou dor, deprimidas pelos efeitos da doença e também pela humilhação de saber que a sua vida, exposta e dependente da má vontade dos gerentes do serviço público, vale tanto quanto meia dúzia de alfinetes ou bolinhas de gude.
        
Quem arranca animais silvestres de seu habitat, pelas nossas leis comete crime que o IBAMA, quando localiza o seu autor, não perde tempo em enquadrar e encaminhar para julgamento e punição. Pobre ou rico, o habitat natural do homem é a sua dignidade. E quem, no comando do Estado, em nome de interesses de caráter privado, arranca do homem a sua dignidade ao não lhe oferecer condições de tratar da própria saúde, que punição legal deveria receber?
        
Não oferecer condições para que a saúde seja respeitada e a doença combatida, não é crime? Por que então os autores desse crime não recebem a punição devida?  Por que trancafiar dezenas de pássaros numa gaiola na ânsia de vendê-los é considerado crime, e trancafiar pessoas na angustia de atendimento médico para daqui dois, três ou seis meses não é?

Por que cortar uma árvore é crime ambiental, mas “cortar” dezenas de vida pela omissão do serviço médico e apenas política de Estado? Qual a diferença entre matar a tiros (como faz qualquer bandido comum) ou matar lentamente (como fazem determinados bandidos de respeito) deixando que doentes sigam abandonados morrendo nas corredores do serviço público de saúde?
        
Por que a polícia algema imediatamente quem, sob flagrante, comete um crime, mas quem destrói a saúde publica (crime mais do que flagrante) com desvio ou cortes intencionais de verbas continua desfilando perenemente por manchetes de jornais e saudado como homem público de respeito e (sempre insaciável) ambicionando até cargos maiores?

E o povo, diante de tudo isso, não se revolta por quê?

                                      Silvio Prado

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