quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"o povo taubateano não é uma manada de 300 mil desmemoriados. Além de não esquecer, ele também sabe pensar"

Papo 45, ou seja, papo furado
Papo 45, ou seja, papo furado

Se preparando para as eleições de 2012, a família Ortiz já começou a dejetar pela cidade seus papelotes eleitorais. Toda casa, toda esquina, todo boteco, enfim, a cidade inteira se vê na obrigação de engolir os papelotes tucanos com os personagens de sempre e o velho discurso que já não engana nem criança de berçário.
Como é costumeiro, nos papelotes eleitorais tucanos aparece com destaque a figura insossa do governador Geraldo Alckmin, posando de administrador competente, a roupa impecável e o gasto sorriso ensaiado em todas as fotos. No mais recente papelote distribuído pela cidade, Alckmin despeja bênçãos e louvores a Junior Ortiz, o moço que, em 2008, para desespero do velho Bernardo levou uma sova eleitoral de Rouberto Peixoto e terminou a eleição quase virando coroinha do padre Afonso. Agora, esquecido o passado, Junior bota novamente seu bloco na rua e vem com tudo em outra tentativa para se fazer prefeito.
Também não faltou no recente papelote a figura do senador Aloísio Nunes Ferreira, amigo inseparável de Paulo Preto, ilustre taubateano que, entre mil e uma traquinagens feitas a partir do Dersa e das obras do Rodoanel, em 2010 deu um balão nas finanças de campanha do candidato Serra e abriu brechas e escândalos para que os defensores da candidata Dilma pudessem atirar com gosto no candidato do PSDB.
É claro que na propaganda tucana não pode faltar a figura e a palavra de São Bernardo Ortiz, o imaculado homem que por três vezes ocupou a principal cadeira do palácio Bom Conselho administrando Taubaté como se estivesse, de chicote em punho e palmatória guardada no bolso, dando ordens rotineiras para o caseiro de uma certa chácara localizada no Bonfim.
Como na campanha de 2008, Junior apresenta seu pai como modelo a ser seguido, mesmo que Bernardo seja agora um novo ficha suja, inelegível por três anos, depois que a justiça cravou no diário oficial sentença condenatória ao ex-prefeito por improbidade administrativa.
Mesmo que sobre Bernardo não pesasse a condenação da justiça, outros atos do ex-prefeito, jamais julgados por qualquer tribunal, tirariam dele o direito moral de colocar seu nome em disputas eleitorais. Quem em três mandatos perseguiu ambientalistas, sindicalistas e qualquer cidadão que exerceu o direito de expressar opinião contrária à sua, pode ser considerado exemplo a ser seguido? Quem plantou o inferno na vida de indefesos funcionários públicos não pode servir de modelo para alguém que deseja administrar a cidade, mesmo que esse alguém seja seu filho. Quem tratou o atual prefeito, Rouberto Peixoto, como um verdadeiro filho adotivo e se empenhou para que o mesmo se elegesse, ao invés de ser olhado como exemplo deveria ser estimulado a pedir desculpas ao taubateano pelo exercício descarado de propaganda enganosa e seus trágicos efeitos.
Mas nem só de papelotes eleitorais vive a precoce campanha eleitoral tucana. Agora, também atacando de colunista de jornal evangélico, Junior Ortiz aparece na página 2 do jornal mensal Classy Golspel com um texto intitulado A crise moral de Taubaté. No texto do Classy Gospel Junior fala de amor ao próximo, misericórdia com o outro, rejeição ao pecado, resgate da honestidade, valores morais e cristãos, construção da felicidade comum, família , além de condenar a vaidade pessoal e propor a rejeição ao pecado.
Essa relação de valores Junior enfeixa num texto construído certamente com dois objetivos. Primeiro, demonstrar que tais valores foram e são cultivados por seu pai Bernardo Ortiz fazendo dele um administrador público incomparável, conforme dá a entender o pretendente a prefeito. Segundo: Junior também dá a entender que o tal administrador público incomparável tem um herdeiro não só biológico, mas político e, lógico, é ele, Junior, o grande herdeiro. Sendo assim, Taubaté pode dormir tranqüila porque o seu futuro já tem mãos seguras para conduzi-lo.
Como os papelotes da campanha tucana, o jornal Classy Gospel vem sendo distribuídos pela cidade inteira. Idealizado pelo jovem e dinâmico pastor André Zion Roth da Primeira Igreja Batista Internacional e com uma tiragem de 20 mil exemplares, o Classy, depois da aparição de Junior como colunista não é o mesmo jornal de tempos atrás, agora extremamente colorido, 16 páginas, diversificação de matéria, nova diagramação, visual bem mais leve, porém sem abrir mão de seu viés pentecostal e posturas políticas próprias de setores conservadores, defendendo, por exemplo, a invasão do campo brasileiro pelo capital estrangeiro e, sem nenhum pudor, agradecendo a Deus por isso. Depois, de forma confusa, elogia o projeto do novo Código Florestal e, ao mesmo tempo, critica o agronegócio pela destruição à natureza.
Mas o tucano Junior não é o único a aparecer no jornal evangélico. Na página 15, também pode ser visto, juntamente com ele e o pastor André, um ex-comunista, guerrilheiro dos tempos da ditadura e agora senador pelo PSDB, Aloísio Nunes Ferreira. Antes, na pagina 13, Junior aparece em mais uma foto com outras seis pessoas, inclusive o vereador Digão.
Tudo indica que o esquema tucano de fazer política outra vez não vai perdoar ninguém e promete encher a cidade com mil papelotes repletos de demagogia, como também usar o púlpito e jornais de igrejas para convencer fiéis do quanto suas pretensões de governo são repletas de valores cristãos.
Não existe nada novo nessa história. Nas últimas eleições presidenciais, José Serra mostrou como usar a religião para ganhar votos, proporcionando cenas ridículas para a imprensa. Não se sabe quantas imagens de santos ele beijou e levantou nas igrejas católicas. Não se tem notícia de em quantas vigílias evangélicas ele orou e também não se sabe de quantas sessões espíritas participou ou de quantos passes recebeu nos terreiros por ele visitados. Sabe-se apenas que ele foi católico quando visitou igrejas católicas, evangélicos nas igrejas evangélicas e, enfim, acabou tomando uma surra inesquecível nas urnas.
No trato eleitoral com igrejas, além do pai, Junior pode ter em Serra um grande mestre. Diante dessa investida tucana, é bom lembrar: o povo taubateano não é uma manada de 300 mil desmemoriados. Além de não esquecer, ele também sabe pensar

Silvio Prado.












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